Patrícia Pereira

A EDUCAÇÃO

A Educação é essa terra sobre a qual todas as áreas do conhecimento e quase todos os profissionais em suas especialidades já opinaram. Loteada e povoada por metodólogos, psicólogos, historiadores ou qualquer um que se autodenomine “especialista em educação”, ela sempre nos revela elementos fundamentais para compreendermos a dinâmica de reprodução do sistema no qual estamos inseridos. A saber, o capitalismo.

A Educação também tem o mérito de se mostrar muito permeável às novidades. Para a nossa sociedade é muito importante que o sistema educativo, em sua estrutura, tenha uma identidade com o atual, com aquilo que se impõe como elemento incondicional do constructo da identidade pós-moderna (?).

E a Educação, boa filha que é da manutenção do poder, lança mão de seu arcabouço teórico, de sua tradição e de seus pensadores para poder atender a essa demanda, já que deve escapar à avaliação de imutabilidade que seguidas vezes e, historicamente, lhe é imposta. Imutabilidade de dimensões espaciais e temporais.

A Educação, então, se põe a reelaborar suas concepções. Repensa o lugar do conhecimento, questiona a ação educativa, avalia seus instrumentos e identifica o “perfil” que deve atingir seu novo educando. Nesse processo, o fim - entendido como objetivação - do trabalho educativo se esvanece. Importa atingir as metas de conciliação com as bases de reprodução do sistema. A saber, o capitalismo.

Importa adotar o paradigma de qualidade, essa qualidade total, totêmica que instaura grandes vetores de controle e que dita o futuro. Importa descaracterizar a lógica do ensino instituindo uma lógica do treinamento, um coaching. Importa transfigurar a busca por si, substituindo a possibilidade de construção da identidade por um enaltecimento da natureza empreendedora do ser humano.

Mas, ainda é preciso socorrer a Educação de sua vocação teórica e conteudista.  É preciso que a Educação esteja inserida na vida do educando de maneira funcional.  O saber fazer evidencia uma educação destinada a formar indivíduos criativos, aptos a resolverem problemas singulares, colocados na ordem do dia a dia.

Vivemos em um tempo onde o acesso às informações, e aos saberes produzidos está amplamente democratizado pelos meios de comunicação. É importante que a Educação crie mecanismos de valorização desses “conhecimentos”. Não devemos nos preocupar com sua gênese ou capacidade explicativa do real, pois o conhecimento deixou de ser uma apropriação da realidade pelo pensamento, para se transformar em convenção cultural, em constructo subjetivo.

O educador precisa ganhar plasticidade, ele deve ser capaz de compreender a fluidez dos conteúdos curriculares. Como um designer, ele precisa gestar encontros e significados para as formas dos objetos educacionais, proporcionando ao educando instrumentos de auto-aprendizado. Aprender a aprender tornou-se mais importante do que compartilhar a tradição.

Não importa à macroestrutura do sistema; a saber, o capitalismo; a inserção histórica nas formas de apropriação desse educando.  Não interessa evidenciar o acúmulo de experiência histórica agregado a cada conceito e categoria. Não cabe identificar quais elementos culturais precisam ser assimilados para manter a condição essencial de nossa humanidade.

Não há humanidade, há apenas indivíduos.

Indivíduos destituídos de libido e de arrojo, “pseudo-sujeitos” uniformizados que vivem na ausência do pensamento autônomo, consumidores de imagens. Mas imagens que só deixam ver e que constituem a cristalização dos parâmetros culturais e estilísticos do contexto do qual o sistema se alimenta. A saber, o capitalismo.

Educadores mais atentos identificaram a extrema agilidade com que o sistema foi capaz de se reproduzir, metamorfoseando-se em estética completa.  Educadores mais reflexivos enfrentaram essas demandas performáticas com propostas de disciplinas formadoras e estruturantes.

Educadores corajosos optaram pelas práticas de leitura, atividade paciente, experiência simbólica que trabalha nosso interior e não se reduz a mera técnica. Educadores verdadeiros se lançaram a construir laços afetivos, a substituir as regras de gestão por significações.

Educadores lúcidos apresentaram a seus educandos reflexões e experiências. Fomentaram debates e instigaram procuras. Enfrentaram angústias e aceitaram derrotas.  Interpretaram os homens e as sociedades, suas ideias e suas materialidades e não ignoraram o sentido ético de nossa existência. Permitiram à Educação, finalmente, seu maior fim:

A saber, a emancipação dos homens.